Sistema prisional de Joinville será pioneiro na implantação da Justiça Restaurativa em Santa Catarina

rafaela frança
3 min readMar 25, 2022

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Foto: Agência Brasil

De acordo com Juiz João Marcos Buch, introdução do projeto deve ocorrer ainda no primeiro semestre deste ano

O sistema prisional de Joinville será pioneiro na implantação da Justiça Restaurativa em Santa Catarina, e a introdução deve ocorrer no primeiro semestre deste ano. O objetivo do projeto é a solução de conflitos para superar a violência e curar traumas da vítima e do infrator. Em funcionamento no Brasil há mais de dez anos, a Justiça Restaurativa apresenta bons resultados em projetos implantados em diversos estados.

Realidade desde a década de 70 em países como Canadá e Irlanda, atualmente o projeto ganha destaque em todo o território nacional. De acordo com o Juiz João Marcos Buch, da Execução Penal de Joinville e Mestre em Ciência Jurídica, o projeto reconhece o erro do causador do dano, e também a dor da vítima, reconciliando perante a lei para os apenados que desejem restaurar os danos causados. “Enquanto a Justiça tradicional é baseada na sanção retributiva, que visa o retorno do apenado à sociedade de forma harmônica e integrada por meio da aplicação da pena, a Justiça Restaurativa tem como objetivo trazer ao ofensor a sensibilização e responsabilização pelos seus atos, além de uma possível ressignificação e reparação para a vítima”, explica.

Inovador no Estado catarinense, o projeto oferece uma equipe multidisciplinar formada por psicólogos, pedagogos, terapeutas, técnicos jurídicos e assistentes sociais. A partir dessa equipe, os envolvidos discutem sobre o ato praticado e as consequências. No fim do processo, voluntariamente os apenados podem requerer um encontro com a vítima. “Por lei, o objetivo da aplicação de uma pena é preparar essa pessoa para retornar a sociedade livre de maneira harmônica e integrada, e esse é o processo legal. A justiça restaurativa caminha paralelamente ao sistema de justiça criminal. É algo independente em que a pessoa que está cumprindo a pena, pode participar desses ciclos restaurativos de forma espontânea”, esclarece o Juiz.

É importante ressaltar que esse tipo de alternativa penal, não substitui a forma tradicional de justiça. O apenado continua pagando a pena, entretanto terá chances de reconhecer os erros. “É importante falar que não é um projeto evangelizador, porque o Estado é laico. Então, são os recursos humanos na ótica dos direitos humanos para aplicar a justiça restaurativa, junto ao complexo prisional do presídio e da penitenciária”, explica Buch. Além disso, de acordo com especialistas na área, ao priorizar o diálogo entre vítima, ofensor e envolvidos, é possível chegar a reparação dos danos e a restauração das relações de forma mais saudável, integrando novamente o apenado à sociedade de forma adequada e humanizada.

Além de promover o diálogo entre os envolvidos, a Justiça Restaurativa busca compreender as origens dos conflitos. Por exemplo, se a vítima foi roubada, o projeto contribui positivamente no processo de ressocialização do apenado. “A justiça restaurativa visa o ser humano e a justiça tradicional é um instrumento do Estado de opressão. Ou seja, ela lança um olhar para a dor da vítima e também para o acusado”, explica o Juiz.

Projeto ajuda na promoção social dos presos na sociedade e solução de conflitos

O poder judiciário vai além de decretar uma sentença para quem comete crimes perante a sociedade. Atualmente, o método da Justiça Restaurativa atua também como facilitadora do acordo entre a vítima e o acusado, visando um sistema prisional menos violento e mais educativo. Por isso, além de resolver o conflito, é essencial entender o motivo da violência, que reúne aspectos comunitários, institucionais e sociais. Exatamente nesse sentido, foi criada a Resolução 225/2016, que instituiu a Política Nacional de Justiça Restaurativa. “O Estado brasileiro deveria caminhar para deixar o sistema de justiça criminal como última hipótese. Então, a questão da vulnerabilização, como o tráfico de drogas que a pessoa vai traficar para sustentar sua família, quer dizer o Estado deveria comparecer com todos os outros instrumentos para tentar evitar que a violência ganhe força”, exemplifica Buch. “Só que o Estado não faz isso: ele abandona as populações vulnerabilizadas e com um histórico de um país escravocrata, machista, colonialista, e acaba reprimindo essas populações. Desta forma, a justiça restaurativa pode ser um instrumento anterior à presença da justiça criminal para solucionar conflitos nas comunidades, nas escolas e em todos os ambientes, desde a classe média até a classe mais rica”, finaliza.

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