consumo minha errática até dizer que basta sentir o que quer que seja que meu corpo deseja sentir

rafaela frança
2 min readOct 21, 2021

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é uma luta observar e absorver o vazio que encontro a partir do meu pescoço pra baixo, até tão baixo que não vejo o ponto de partida de onde eu nasci. esqueço quem de fato eu sou para caber uma nova pessoa que eu nem sei se vale a pena ser. se toda essa angústia vai perdurar até o dia do fim ou no fim do dia, ou se as coisas mudam com o tempo, inerentes ao meu desejo. escrevo como uma necessidade de contexto da minha própria trajetória, buscando sentido para as estações como se isso ditasse o valor de cada momento. mas nada é tão real quanto o ventre da minha mãe e as mãos ásperas do meu pai. nada é tão assustador quando a consciência de que algo precisa ser feito para existir, lembrando que o viver não basta. ter que ir além do corpo, expandir a mente, crescer vigorosamente e desejar, no mais âmago do meu ser, melhorar o que nem sei que preciso. é uma busca sem linha, sem rua, sem fim. onde começa nos fios do cabelo e transborda para onde alguém sutilmente me toca. lembro da suavidade dela e me padeço, como se ali pertencesse. mas o medo me faz questionar se é ali que devo estar — se minha presença é válida tanto quanto a dela é para mim. ser alguém é estar sempre suspensa, esperando a estabilidade que nunca chega. apesar de saber que, se não fosse o balancê das coisas, não existiria nada. nem mesmo a dúvida do existir e ser.

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