11 dias para eu completar 26 anos e a síndrome geral de adaptação

rafaela frança
3 min readSep 22, 2022

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ARTWORK by @theo.lindquist

agora eu finalmente entendo todos os anos que meus pais diziam que “parece que foi ontem”. realmente, tudo parece que foi ontem. tipo a bicicleta sem freio na casa da rua corumbá. o pé de chuchu que balançava como uma cama elástica. o sapatinho de salto vermelho que ganhei quando completei sete anos. o soninho da tarde dividindo o sofá com a mãe. a carla, minha boneca de pano, que ficava comigo o tempo todo. as ruas, o postinho de saúde do bairro, a minha primeira casa, a segunda, a terceira. tantas, tantas que vez ou outra me pego visitando-as em sonho. assim como a casa azul que tinha um chão que mexia a cada passo. que eu brincava de pular e sentia medo de desabar. todas as vezes. todos os momentos que eu vivi no fim de uma infância cheia de alegria e início de uma adolescência confusa e meio sozinha. de qualquer forma, a rafaela de antes, hoje, entende tudo que meus pais me confessavam. eu pensava que era um exagero de um pai do signo de câncer, mas não. a vida, realmente, passa num segundo.

hoje eu pisquei e acordei em uma nova vida. eu, aos 25 anos, vivendo como adulta, conversando como adulta, acolhendo os mais frágeis como adulta, sorrindo e chorando como adulta. a vida mudou completamente. a casa é nova, o trajeto também. as pessoas ao meu lado também são outras. quem eu nunca imaginei — ou sempre imaginei, mas não achava que conseguiria. alguém que me ama e me cuida com carinho. finalmente, eu tenho.

agora, faltam 11 dias para eu finalizar mais um ciclo. e esse é, definitivamente, um dos mais importantes. sinto medo, ansiedade e uma sensação estranha de desconhecido. (logo eu, que sempre achei estar pronta para qualquer coisa). enfim, agora, sinto que vivo de verdade. pois sinto todas as coisas, resolvo as dores e lido com elas, cara a cara, como uma adulta. vez ou outra, fraquejo. lembro de quando eu me escondia embaixo do assoalho da casa para chorar e fazer meu típico drama de quem ia embora e nunca mais ia voltar. e eu sempre volto. eu nunca desisto. eu continuo a caminhar.

escrevo isso com peso nas mãos como quem desaprendeu a falar. hoje, sei que sinto mais do que falo. e falo tão pouco que muitas vezes esqueço que devo falar. com o tempo, a gente aprende. e eu ainda tenho tanta coisa para aprender. serão tantos outros ciclos para finalizar, né? eu só espero que a rafa do futuro esteja feliz, pertinho dos meus pais, com uma grande amizade do meu irmão, e ao lado de quem me ama e me deseja por perto.

ainda bem que eu sou amada. ainda bem que vou completar mais um ano neste plano. ainda bem que ainda existe vida aqui.

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